segunda-feira, 29 de julho de 2013

Memorabilia

A única boneca que já tive chamava-se Dominique. Não tenho certeza de ter escolhido o nome. Tanto fazia; não era meu brinquedo preferido. Gostava da terra, da rua, do sol. No sítio de meu avô, onde normalmente passávamos fins de semana e férias, havia grutas imensas, cavernas a céu aberto. Eram enormes paredões com a sombra justa para caminhar, cheios de plantas coloridas que não nasciam no impiedoso sol da caatinga. Eram cheios de frescor e eu, passeando pequena dentro deles, sentia-me a própria líder de uma expedição. Víamos lagartos; eu era uma paleontóloga num encontro com um dinossauro. Num ponto qualquer do caminho, subia com esforço a parede de terra alaranjada e olhava ao redor - terra seca, rachada, espalhando-se a perder de vista. Bem ao longe, uma casa, um pastinho. Bichos não lembro.
Contando a alguém as minhas aventuras, sempre recebo um olhar incrédulo, de piedade até, como se fosse um quadrado de terra qualquer. Eu era um pirata, aquele era meu mar. E me vêm lágrimas aos olhos; tornam-se frescor para o sol que brilha a lembrança.

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