quinta-feira, 31 de maio de 2012

A íris negra observa

A leve nuvem de sina que me envolve
passeia com minha desesperança.
Meu corpo é vaso fútil de descrença;
meus olhos os abismos do mistério;
minh'alma, coitada, é só lembrança.




                                                                  


Imagem: 'Silhouette', Juliette Bates, in Artsy.


domingo, 27 de maio de 2012

Destempo

De repente, não mais que de repente
- mas nada é súbito, surpresa.
De repente é o ontem invejoso
que do amanhã rouba sua certeza.

sábado, 26 de maio de 2012

No bar com Bukowski

Levianamente perdida,
encaro o copo de cerveja à minha frente.

Dentro dele há gerações de homens perdidos
nos lençóis das prostitutas e no escuro da noite.





quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lolita, Brasil.

- Teu corpo se move com desejo.
- Desejo é meu estado natural,
  minha casa, meu abrigo contra o tédio.
- E não pensas que isso te faz mal?
- Maus são o comedimento e o assédio.
  Quero viver mergulhada em carnaval.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A noite é dos noctívagos

A figura noctívaga - descrevê-la-ia com perfeição?
O que os olhos capturam o cérebro constata e a mão perde.
A longilínea sobriedade do trajar; a alva auréola de inquietação; as mãos ágeis num tato desnorteado.
A fumaça do cigarro soprada para longe das considerações. um andar de baixo, pesado, tenso. Um olhar quente - as mãos que abraçam o corpo frio, e o olhar quente.
A indecisão sem saber se é ou não contida. Um último movimento estático.

Adeus, último olhar do noctívago que enche minha angústia de calmaria.

Poema de amor ao contrário

Ah, meu dourado amor! Não cante nunca
tua paixão com toda essa ternura.
Jamais me diga "só a ti pertenço".
Com certas palavras é preciso usura.

Não diga "amo-te" como um bom dia
nem me olha todo o tempo com esse olhar
de perplexidade apaixonada
pois aos olhos, muita vez, é bom calar.

Não exija que te ame assim, intensa,
num arrebatamento irrefletido,
hoje paixão, amanhã cruel sentença.

Deixa que te ame calmamente,
como o mar, em sua profunda permanência
ou o sol, em sua distância incandescente.

Azul

Nestes lábios lunares colho um beijo
de mística e terna poesia.
Nestes olhos de vênus eu mergulho,
numa eterna confluência de carícias.

Ex-futuro

Ah, se essa tua boca
sofista de mil anos
chega aos meus ouvidos
cansados de ser,
seríamos uma incógnita
na parede do tempo,
duas vazias metades,
uma fotografia oca.

Ser


Descendo ao fundo de si, encontrava o topo
De sua etérea torre de cristais.
E, a cada interferência, sua alma doía.
Não se pode, só um pouco, ser em paz?