segunda-feira, 30 de julho de 2012

A prostituta


Deixai ir por entre vós minha musa triste
com palavras presas em sua garganta seca;
seus cabelos de estrela e seu vestido de lodo
E o coração mais pesado que o mundo.


Ela irá por entre vós como um desejo
sólido e efervescente, feito de carne.
Como a filha da sífilis, que o olhar evita;
como a criança mais leve que o ar.




Imagem: 'A blue room', Picasso.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Teresa

Teresa do olhar fixo. Apaixonadamente perplexo.
Ela era uma pedra. Estática e mutável. Inerte e permanente, plácida. Bovinamente plácida.
E então, era. Acontecia a todo momento; sua existência fervilhava. Intensamente contemplativa, compartilhava da alma da natureza, da urbe, do cosmos.
O tempo fluía, escorria por seus dedos, e ela observava, como o último ato antes da morte. Percebia um movimento contínuo e animalesco no andar e comer e falar das pessoas. A fruição era angustiante. As ondas de percepção a jogavam no instinto. Ela vislumbrava o uno inseparável, o homem-animal. O instinto primevo. E se envolvia na fruição sensorial, espiritual. A lógica não tinha razão.
Teresa andava com pernas de dança, cabeça de loucura e alma de lugar algum.





Imagem: 'Beggar Woman', Modigliani.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Oração

Guarda no teu seio
a minha essência,
acolhe meu espírito perdido.
No teu colo de suavidade,
Cosmo,
guarda meu espírito.

Não me deixa derreter
nos braços da obscuridade
nem fugir de mim mesmo
em devaneios.
Guia-me para a tua luz,
para o teu delírio certeiro,
teu delírio perfeito,
 teu palpitar inteiro.

Escrito com Anna Raquel. 







Contigo

Não deves pensar no tempo,
ele só nos angustia.
Te apegues ao pensamento
- que é claro como o dia -
de que eu estou contigo,
como minha torpe poesia.