terça-feira, 4 de junho de 2013

Pédarcoíris

(ou Porque as fichas de cheerleaders são azuis)

São lindas, bem formadas, as três.
A da esquerda veio do Brasil, vasto como seu quadril. Seus cabelos dourados de sol parecem o crepúsculo em sua pele bronzeada.
A do meio parece europeia, e tem aquela cara europeia de quem não gosta de nada em nenhum momento mas aí, de repente, abre um sorriso branco com seus dentes pequenos e incisivos e fica bonita. A da direita é louca, tem um cabelo quase branco como a neve e comprido o suficiente só pra esvoaçar com o vento. Parece ter saído de uma montanha de neve russa, é toda branca; só os olhos são escuros.
Movimentam-se em seu metro quadrado com displicência, sem muito desejo. É noite, talvez precisem do sol.
Para fazer graça, a da esquerda mostra seu sapato, num gesto obsceno de vaudeville - aí há algo. Tira-o lentamente, e, mágica, aparecem suas unhas do pé. Cortadas em triângulos, pintadas uma de cada cor, enormíssimas; uns bons dez centímetros. Faz mesuras e gestos como os se tocasse uma castanhola nos pés. A do meio não se abala, tira os sapatos calmamente e lá estão: são menores, mas obviamente menos frágeis, de uma completude mais harmônica, suas unhas cortadas como um losango. As cores berrantes parecem ter sido escolhidas por uma criança, coisa esquisita numa pessoa com uma cara tão monocromática.
A da direita sorri um riso de escárnio. Tira os sapatos e saem deles as mais longas unhas já vistas, e transparentes, translúcidas como as asas de uma fada.
São esquisitas, é claro que unhas deste tamanho serão esquisitas, mas para elas é o mérito da esquisitice.
Vão preencher sua ficha de inscrição para o que quer que seja, desde que as escolham.
Depositam-lhe nas mãos fichas de papel cartão, de um azul fosco e forte que ficaria mais bonito em algo fluido como a água do mar. Examinam as fichas: todas iguais. Mesmas informações, mesmos requisitos a cumprir, nenhuma singularidadezinha só para sorrir. Rasgam as fichas, dançam ao cair de pedacinhos azuis, dão-se as mãos e vão embora, cada qual com suas unhas.

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