quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Da Fuga

"Perdi-me muitas vezes pelo mar
com o ouvido cheio de flores recém-cortadas,
com a língua cheia de amor e de agonia.

Muitas vezes me perdi pelo mar,
como me perco no coração de alguns meninos.

Não há noite em que, ao dar um beijo,
não sinta o sorriso das pessoas sem rosto,
nem há ninguém que, ao tocar um recém nascido,
olvide as imóveis caveiras de cavalo.

Porque as rosas buscam em frente
uma dura paisagem de osso
e as mãos do homem não têm mais sentido
que imitar as raízes sob a terra.

Como me perco no coração de alguns meninos,
perdi-me muitas vezes pelo mar.
Ignorante da água vou buscando
uma morte de luz que me consuma."

García Lorca

Nenhum comentário:

Postar um comentário